Por Franco Adailton – o Francolino
Imaginem se, subitamente, ao melhor estilo “Ensaio sobre a cegueira”, de Saramago, acordássemos todos acometidos por uma pane no nosso sistema de informação e ficássemos sem saber notícias do mundo. Como seria? Aquele vazio, as bancas sem jornais, o rádio sem boletim de trânsito e na televisão, no lugar do noticiário, aparecesse uma tela preta? Uma greve de jornalistas…
Anunciaríamos um comunicado sobre a greve no dia anterior? Seriam os jornalistas censurados dentro dos próprios veículos onde e para os quais trabalham? Censurariam uns aos outros? Ou se apoiariam? Descendo do pedestal de orgulho que lhes circundam, agindo com sensatez e com o mínimo de dignidade que ainda lhes resta.
Será que teríamos coragem de colocar de lado, ao menos por um instante sequer, o ego e a vaidade da profissão para adotar uma postura humilde sobre a necessidade de união da classe profissional, juntamente com a geração acadêmica, para tanto? Assumir que, apesar do glamour, somos mal remunerados por tanto trabalho?
Será que os velhos lobos de redação, com seus altos salários (a minoria, claro) participariam em solidariedade aos colegas e aos aspirantes a jornalistas que estão por vir? Ou deixariam o tesão da mudança e da luta para a nova geração que (todos os indícios levam a crer) pode ser a maior prejudicada com a decisão do Supremo?
Mas como a população saberia do que se tratava? Não é uma pergunta difícil de se responder, chama-se internet. E a nova geração de consumidores-produtores de notícias bem sabe usá-la. Sendo assim, mesmo os velhos lobos que dizem não saber manejar um computador (leia-se Ricardo Noblat), astutos que são, tirariam proveito da rede mundial de computadores para falar sobre o assunto.
O que está prestes a acontecer no Brasil – e espero que não – é inacreditável. Fato digno de notoriedade em todo cenário internacional, apesar de sabermos sobre as violações aos direitos do exercício da profissão em vários países. Reduzir o jornalismo a uma sub-profissão, a um curso tecnológico de dois anos, a uma pós-graduação é algo inaceitável.
Se é pra ser assim, que fechemos todas as faculdades de Direito, pois, com tantas barbaridades e maus exemplos cometidos pelo nosso sistema jurídico, não farão falta alguma. Poderíamos estudar o Direito Positivo, com suas leis e códigos em casa e, depois, nos submetermos ao exame da Ordem. Desse modo, todos poderíamos ser advogados, promotores, juízes, desembargadores e ministros do Supremo. Que tal?
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